sexta-feira, 1 de novembro de 2013

'Incentivei a formação de 4 médicos', diz cubana do Mais Médicos em Campinas

'Incentivei a formação de 4 médicos', diz cubana do Mais Médicos em Campinas

Dania Mercedes Flores Gonzalez diz que o médico deve ajudar a população a melhorar sua condição de vida Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
Dania Mercedes Flores Gonzalez diz que o médico deve ajudar a população a melhorar sua condição de vida
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
  • Direto de Campinas
A médica generalista Dania Mercedes Flores Gonzalez deixou o marido e os dois filhos adolescentes na ilha de Cuba, seu país natal, e irá clinicar por pelo menos um ano em uma unidade básica de saúde em Campinas (SP). Ela e mais outros 11 colegas cubanos e um médico ítalo-brasileiro foram selecionados pelo programa do governo federal Mais Médicos, e se apresentaram na cidade do interior paulista nesta sexta-feira. Eles vão começar a trabalhar no próximo dia 11, uma segunda-feira, dia considerado de grande movimento de pacientes após o final de semana.
"Ajudei a formar quatro médicos. Incentivei os pacientes que me procuraram, e depois se formaram em Medicina lá na Venezuela", conta Dania, sobre sua experiência profissional anterior. Ela diz saber que vai encontrar as mais diversas enfermidades, e entende que o médico, além de tudo, tem que estar perto da população, amparando suas dores e ajudar os moradores a melhorar sua condição de vida.
Até a próxima semana, os médicos estrangeiros terão uma fase de adaptação para conhecer como funciona o sistema de saúde no município, e quais suas maiores deficiências. A cidade já tinha recebido cinco profissionais brasileiros que concluíram o curso de Medicina fora do Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, esses profissionais estão com o registro provisório e poderão atuar apenas nas unidades de saúde designadas pelas prefeituras. Em Campinas, além do pagamento do governo federal de R$ 10 mil, os médicos ganham também uma ajuda de moradia de R$ 1,5 mil e mais R$ 590 de auxilio-alimentação. Por enquanto, estão alocados em um hotel custeado pelas prefeitura.
"Saúde é coisa séria"
Atuar fora do país e ganhar experiência na profissão também foram o incentivo para o médico cubano Manuel Cobas vir ao Brasil. Professor auxiliar na Universidade Médica de Havana, Cobas é especialista em Medicina familiar e um experiente neurofisiologista, já tendo trabalhado por dois anos no Haiti.
"O médico não pode escolher lugar ou hora para atender", defende o médico cubano Manuel Cobas, que trabalhou 2 anos no Haiti Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
"O médico não pode escolher lugar ou hora para atender", defende o médico cubano Manuel Cobas, que trabalhou 2 anos no Haiti
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
"Saúde é uma coisa séria. É um direito. Lá no Haiti encontrei muita gente pobre, mas pobre mesmo, necessitando de cuidados. Fiquei lá dois anos. Aqui no Brasil farei o mesmo esforço, dia a dia", falou. Na sua opinião, o profissional de saúde não pode se negar a fazer plantões e atender o doente, seja onde for. "O médico não pode escolher lugar ou hora para atender", opinou.
Dania, Cobas e outros colegas estrangeiros irão atuar no programa Saúde da Família, da prefeitura de Campinas. O cubano Higinio Rodriguez, que também integra o grupo, minimiza a dificuldade inicial com o idioma no atendimento aos pacientes. "Nós cubanos e brasileiros temos muitas coisas em comum. As culturas podem ser um pouco só diferentes, mas, afinal, fomos descobertos por europeus e não haverá dificuldades", disse. Sobre o Brasil, ele diz conhecer apenas das novelas transmitidas pela TV. "Acho que teremos uma grande integração. Vejo que temos aqui um povo muito necessitado."
Higinio Rodriguez minimizou a dificuldade inicial com o idioma no atendimento aos pacientes Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
Higinio Rodriguez minimizou a dificuldade inicial com o idioma no atendimento aos pacientes
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
Mais clínicos gerais e pediatras
O secretário de Saúde de Campinas, Carmino de Souza, conta que o programa Saúde de Família consiste em uma equipe multiprofissional que visa desde o combate à dengue até atender pacientes com doenças mais complexas. "Já dispomos de 98 equipes, e com esses novos médicos poderemos passar a ter 160 equipes. O ideal seria 250 equipes", comentou.
De acordo com o secretário, os médicos estão com os registros provisórios em dia e poderão atuar por um período de um ano.  Ele falou que os novos médicos foram destacados a unidades básicas de saúde da periferia, onde há uma grande carência de profissionais. "Eles vão dar o suporte que sustenta o programa, como a distribuição de remédio em casa, auxiliar na ação preventiva de enfermidades e na orientação de doenças", disse Souza.
O secretário falou sobre a dificuldade de se garantir a permanência de profissionais na saúde pública. De acordo com ele, metade dos médicos que acessam a saúde pública municipal está na faixa dos 25 e 35 anos e, quando encontram outras opções para trabalho, deixam o serviço público. Por isso, continua ele, há carência de profissionais em muitas unidades, cujas vagas são difíceis de serem preenchidas.
"Por isso, iremos continuar com o processo seletivo de contratação", disse. A Secretaria de Saúde abriu no final do mês passado a inscrição para contratação emergencial de médicos. A prioridade são vagas para clinico geral e pediatras. Os salários podem chegar a R$ 10 mil, além dos auxílios para moradia e alimentação. As inscrições vão até 5 de novembro pelo site da prefeitura de Campinas.
Grupo de 11 cubanos e um ítalo-brasileiro foram apresentados nesta sexta-feira em Campinas Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
Grupo de 11 cubanos e um ítalo-brasileiro foram apresentados nesta sexta-feira em Campinas
Foto: Rose Mary de Souza / Especial para Terra
ENTENDA O 'MAIS MÉDICOS'
- Profissionais receberão bolsa de R$ 10 mil, mais ajuda de custo, e farão especialização em atenção básica durante os três anos do programa.
- As vagas serão oferecidas prioritariamente a médicos brasileiros, interessados em atuar nas regiões onde faltam profissionais.
- No caso do não preenchimento de todas as vagas, o Brasil aceitará candidaturas de estrangeiros. Eles não precisarão passar pela prova de revalidação do diploma
- O médico estrangeiro que vier ao Brasil deverá atuar na região indicada previamente pelo governo federal, seguindo a demanda dos municípios.
- Criação de 11,5 mil novas vagas de medicina em universidades federais e 12 mil de residência em todo o País, além da inclusão de um ciclo de dois anos na graduação em que os estudantes atuarão no Sistema Único de Saúde (SUS).