quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Papa lança questionário inédito sobre as famílias modernas

  atualizado às 15h30

Papa lança questionário inédito sobre as famílias modernas

"A Igreja vive uma época de crise", diz Papa Francisco em documento

O papa Francisco lançou uma consulta global sobre a evolução da família moderna, por meio de um questionário enviado aos bispos de todo o mundo sobre o casamento homossexual, o divórcio e o aborto, entre outras questões até então tabus na Igreja Católica.
O papa Francisco cumprimenta cardeais e bispos durante audiência geral na Praça de São Pedro no Vaticano no dia 30 de outubro Foto: Alessandro Bianchi / Reuters
O papa Francisco cumprimenta cardeais e bispos durante audiência geral na Praça de São Pedro no Vaticano no dia 30 de outubro
Foto: Alessandro Bianchi / Reuters
"A Igreja, nó vital da sociedade e da comunidade eclesiástica", vive uma época "de evidente crise social e espiritual", adverte um documento preparatório de sete páginas enviado há poucos dias às conferências episcopais do mundo inteiro e divulgado nesta terça-feira pelo Vaticano.
O documento, que inclui um questionário com 38 perguntas dividas por temas, foi redigido pelo secretariado do sínodo, em preparação para a assembleia extraordinária dos bispos, convocada pelo Papa para o próximo ano.
As questões tratam assuntos sensíveis que vão do divórcio ao casamento homossexual, passando pela adoção por esses casais. A iniciativa provavelmente vai provocar fortes reações dentro e fora da instituição.
O relator-geral do sínodo, o cardeal Peter Erdo, arcebispo de Budapeste, alertou durante uma coletiva de imprensa que não haverá "mudanças na doutrina católica, apenas a maneira de encarar essas situações".
O Sínodo dos Bispos, dirigido por Lorenzo Baldisseri, enviou o questionário para as Conferências Episcopais em meados de outubro e, com base nas respostas vai preparar um documento chamado "Instrumentum laboris", que servirá de introdução para o debate dos bispos, que falam línguas diferentes e têm diferentes problemas em suas respectivas comunidades.
Diante da evolução dos costumes, o papa Francisco convocou para outubro de 2014 a assembleia dos bispos, que deve abordar abertamente os problemas e desafios enfrentados pelas famílias modernas. Sob o lema "Os desafios pastorais da família no contexto da evangelização", a Igreja liderada pelo jesuíta Francisco quer abordar questões muito contemporâneas.
O mesmo pontífice, que defende uma "colegialidade" maior na tomada de decisões, participou da elaboração do questionário, que visa a promover uma nova evangelização baseada em uma atenção maior e "misericórdia" para com aqueles que vivem em situações irregulares.
O Papa pede conselhos sobre a adoção de crianças por casais do mesmo sexo, sobre o aumento dos casais que não são casados formalmente e sobre a atitude da Igreja em relação ao casamento homossexual e às famílias monoparentais.
Com a compilação das respostas será elaborado o documento preparatório, de acordo com a metodologia tradicional utilizada para essas assembleias de bispos, entre as mais abertas e democráticas da Igreja Católica. "Propor um evangelho sobre a família neste contexto é uma necessidade urgente", ressalta o texto.
"Os problemas são muitos. Não é conveniente enterrar a cabeça na areia", comentou o secretário-geral do Sínodo, o italiano Bruno Forte. Entre as questões, o Papa quer saber sobre o "convivência 'ad experimentum' (experimental), as uniões livres, sem o reconhecimento religioso ou civil, e sobre os separados e divorciados que se casam novamente.
Um conjunto de questões foram direcionadas exclusivamente ao casamento gay e aos filhos desses casais que correm o risco de não ver seus pais recebendo os sacramentos, apesar de serem católicos. Baldisseri reconhece a "grande abertura" da Igreja ao permitir que os filhos de casais em situações irregulares - homossexuais, concubinato, divorciados - possam ter acesso à catequese e aos sacramentos.
Um princípio que o papa Francisco defendia desde quando era arcebispo de Buenos Aires e que quer consultar todos os setores da instituição antiga. Após o sínodo extraordinário de 2014 será realizado em 2015 um sínodo ordinário, que poderá adotar medidas revolucionárias para a Igreja Católica. "Não sabemos o que vai acontecer. O debate foi aberto", confessou Forte.
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